Gente parada não marcha

A imprensa, como sempre, escancara sua preferência deixando bastante claro qual agenda prioriza.

Fonte: Guiame, Edmilson Ferreira MendesAtualizado: quinta-feira, 7 de junho de 2018 às 12:44
Evangélicos saem às ruas na Marcha para Jesus. (Foto: Reuters)
Evangélicos saem às ruas na Marcha para Jesus. (Foto: Reuters)

Quinta, 31/05/18 aconteceu em São Paulo a Marcha para Jesus. Domingo, 03/06/18 aconteceu, também em São Paulo, a Parada do Orgulho LGBT. Trata-se de dois eventos consolidados na agenda da cidade. Todo ano, em dias muito próximos, ruas e avenidas famosas de São Paulo são tomadas pelos representantes de cada segmento.

A imprensa, como sempre, escancara sua preferência deixando bastante claro qual agenda prioriza. Um dia após, na sexta, 01/06/18, num cantinho da página de determinado jornal, saiu a notícia com o seguinte título: “Marcha para Jesus reúne milhares e vira palanque”. Na segunda, 04/06/18, no mesmo jornal, no espaço de uma página, saiu a notícia com o seguinte título: “Parada LGBT critica políticos conservadores – Manifestantes abordam as próximas eleições com muito humor.”

No caso da Marcha para Jesus, ao associar “palanque” com “fé”, o estrago para com a intenção do evento já vai para o ralo e, como sabemos, muitos são leitores apenas de manchetes, não se dão ao trabalho de ler, questionar, confirmar informações e refletir. Já na manchete da Parada LGBT a construção gramatical é bem mais generosa, afinal, criticar políticos e debochar das eleições através do humor atrai simpatizantes e conquista pontos de todos os setores, tão enojados e cansados que estamos dos políticos e seus esquemas.

Eu li ambas as matérias, embora os tratamentos diferentes nas manchetes, as semelhanças são enormes. Tanto na Marcha quanto na Parada houve palanque. Em ambos os eventos aconteceram a presença de políticos discursando e levantando suas bandeiras. Em ambos os eventos aconteceram protestos contra políticos e suas corrupções. Em ambos os eventos aconteceram gritos com pedidos que fazem parte da preferência da agenda de cada um. Em ambos os eventos milhares marcharam, sorriram e declararam publicamente suas preferências, convicções e lutas.

Então por que o tratamento desonesto na divulgação? Como já disse, a simpatia ideológica da maioria dos profissionais da imprensa é que define como se narra cada história, mesmo que sejam iguais nos roteiros, é possível negativar ou positivar ideologias através de gramáticas no mínimo questionáveis em suas reais intenções.

Somos um povo culturalmente num beco sem saída. De um lado uma mídia que só faz debochar dos valores judaico-cristãos. Do outro lado atores, músicos, cantores, intelectuais, cada um com sua arte e conhecimento contribuindo para a desconstrução da família como concebida em Genesis 1 e 2. Atrás, vestido com a armadura da lei e do poder, pressiona o estado, aprovando e mudando leis conforme a força de cada grupo e seu lobby, administrando os recursos públicos apenas para se servir e não para servir.

O que fazer em momentos tão críticos? Marchar! Foi exatamente isso que Deus ordenou em Êxodo 14:15: “... dize aos filhos de Israel que marchem”. Marchar pra onde exatamente? Bem, naquele caso era marchar para a única direção possível e não menos assustadora, o mar. De cada lado, montanhas intransponíveis, atrás Faraó e seu exército com sede de sangue.

Precisamos nos dispor a obedecer pela fé a mesma ordem. Entregar os pontos e render-se aos inimigos está fora de questão. Seguir em frente, por mais impossível que pareça, é o único caminho que a fé aponta e é só o que podemos fazer. Abrir caminhos, portas, possibilidades, enfim, tornar possível o impossível, é só com Deus. Sempre foi assim e assim continua sendo.

Quanto aos eventos em si, evidente que se fosse obrigado a escolher, eu marcaria presença na Marcha. Porém respeito o direito de ambos e faço minhas as palavras de Voltaire: “Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante seu direito de dizê-las”. Sobre a Marcha, nunca fui, penso que devo manifestar minha fé e convicções bíblicas através do meu testemunho diário, ao mesmo tempo não concordo com as críticas que leio em relação a Marcha por parte de muitos evangélicos, pois entendo que os que vão o fazem com fé genuína e, ademais, minha opinião não é a única, assim como meu jeito de adorar e expressar minha fé, existem outras formas e maneiras tão legítimas quanto, ou seja, princípios são colunas que devem ser preservadas, já questões tradicionais, litúrgicas, regionais e afins mudam de tempos em tempos, por óbvio merecem sempre uma atitude de tolerância e respeito.

Esse texto, em si, não deixa de ser um tipo de “marcha”. Os dias são trabalhosos e cada vez mais difíceis. As pressões e tensões são cada vez mais assustadoras. Ninguém escapa. Continue crendo. A história da salvação sempre foi assim, quando tudo parecia perdido a salvação chegou. Águas de todos os lados engolindo o planeta e uma arca salvou os que escolheram pela fé entrar nela. Uma lâmina afiada pronta para matar Isaque e um cordeiro surgiu para ocupar o seu lugar. Uma tumba lacrada na certeza de terem matado o Cristo e, no terceiro dia, terremoto e ressurreição. Tudo isso me lembra que gente parada não marcha. Marche. O caminho e o tipo de socorro pessoal para cada um é Ele quem garante e de forma emocionante nos conforta em Hebreus 13:5: “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei.”

 

Edmilson Ferreira Mendes é teólogo. Atua profissionalmente há mais de 20 anos na área de Propaganda e Marketing. Voluntariamente, exerce o pastorado há mais de dez anos. Além de conferencista e preletor em vários eventos, também é escritor, autor de quatro livros: '"Adolescência Virtual", "Por que esta geração não acorda?", "Caminhos" e "Aliança".

*O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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