Ao Senhor, aos santos e ao mundo

O relacionamento entre Deus e o homem está acima do evangelismo em si.

Fonte: Guiame, Luciano SubiráAtualizado: terça-feira, 27 de fevereiro de 2018 às 15:51
Adoração. (Foto: Getty)
Adoração. (Foto: Getty)

Nosso ponto de partida na reflexão acerca dos três ministérios da igreja começa com a igreja em Antioquia:

“Ora, na igreja em Antioquia havia profetas e mestres, a saber: Barnabé, Simeão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes o tetrarca, e Saulo. Enquanto eles ministravam perante o Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: Separai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, depois que jejuaram, oraram e lhes impuseram as mãos, os despediram. Estes, pois, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre”. (At 13.1-4)

Vemos três níveis distintos de ministério sendo exercido pelos irmãos da igreja em Antioquia. Observe:
1) Ministravam ao Senhor;
2) Ministravam uns aos outros (o que vemos na ministração profética);
3) Ministravam aos perdidos (o que vemos na viagem missionária).

A maioria dos crentes em Jesus foi treinada desde o início de sua conversão a colocar o evangelismo (ministério ao mundo) como a prioridade número um da igreja. Ouvimos que esta é a tarefa número um da Igreja, que todos os esforços, sacrifício e dedicação devem se dirigir a este ministério. Mas o que encontramos na igreja em Antioquia, é este tipo de ministério vindo depois de outros dois. E o que quero expor neste capítulo, é que esta é a ordem bíblica dos ministérios da Igreja. Veremos o ministério aos perdidos aparecendo depois dos dois primeiros não por não ter importância, mas pelo fato de que se torna mais eficaz quando vêm como uma consequência dos demais.


Cada crente isoladamente, bem como a Igreja coletivamente, deve entender que não há nada mais importante do que ministrar ao Senhor. Fomos criados para isto, para ter comunhão com Deus! É certo que o problema do pecado, com a queda de Adão, atrapalhou isto, mas este era o propósito desde o início. E a salvação oferecida pelo Pai Celeste não é um fim em si mesma, mas a maneira de nos devolver ao propósito primário da comunhão e intimidade consigo mesmo.

A obra da cruz visa reconciliar o homem com Deus para que este possa ministrar ao Senhor. O evangelismo é o meio de trazer o homem para Deus, e devemos realiza-lo. Mas a adoração que este homem (agora convertido) oferece a Deus é o verdadeiro propósito de tudo.

Temos invertido nossas prioridades! Só porque o evangelismo seja o ponto de partida ao lidarmos com o perdido, não quer dizer que seja tudo, ou que tenha um fim em si mesmo, mas é a forma de reaproximar o homem e Deus. Mas o relacionamento entre ambos está acima do evangelismo em si.

Observe isto no ensino de Jesus:

“Aproximou-se dele um dos escribas que o ouvira discutir e, percebendo que lhes havia respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos? Respondeu-lhe Jesus: O primeiro é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças. E o segundo é este: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que esses.” (Mc 12.30,31)

Toda a lei se resume em dois mandamentos:
1) Amar a Deus;
2) Amar aos homens.

Podemos destacar aqui o amor vertical (do homem para com Deus) que vem primeiro, antes de qualquer outra coisa em nossas vidas. Depois, vemos o amor horizontal (para com os homens) aparecendo. De modo semelhante podemos afirmar que o ministério ao Senhor vem antes do ministério aos homens.

Mas também vemos neste texto que o ministério aos homens se subdivide em outros dois: “ao teu próximo como a ti mesmo”. O amor que expressamos para outros está relacionado ao amor que expressamos para nós mesmos. Quem não se ama não irá amar aos outros! E de modo semelhante, o ministério aos homens também se subdivide em dois: aos de dentro e aos de fora:

1) Ministério aos santos;
2) Ministério ao mundo (aos perdidos).
A princípio, foi um choque para mim tentar colocar o crente na frente do não-crente em nossas prioridades ministeriais. Acho que isto é algo semelhante ao sentimento que temos nas instruções de segurança antes da decolagem dos aviões; quando a aeromoça explica que em caso de despressurização da aeronave, máscaras cairão sobre os assentos e que devemos primeiro coloca-las em nós mesmos para depois coloca-las nas crianças, parece injusto. A primeira impressão que temos é a de que devemos mais atenção às crianças do que a nós mesmos, mas o fato é que se não estivermos em boas condições para continuarmos ajudando depois, as próprias crianças perderão com isto!

Há textos bíblicos que são muito claros em colocar o crente na frente do não-crente na prioridade de ministério:

“Então, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé”. (Gl 6.10)

Este versículo está nos dizendo que primeiro devemos fazer o bem aos que são da família da fé, para depois fazermos o bem aos não-convertidos. Esta é a regra.

Já percebi na minha própria vida e na de muitos outros a quem tenho pastoreado uma verdade: quando temos algum problema com os irmãos, seja por feridas ou desentendimentos, nossa produtividade no Reino sofre uma queda considerável. Não nos sentimos animados em trazer pessoas novas para um ambiente que estamos considerando hostil. É por isso que precisamos ministrar primeiro a nós mesmos para depois ministrarmos os de fora.

Alguns cristãos não concordam com esta ideia sob hipótese alguma. Parecem reconhecer como amados de Deus somente os perdidos; mas ninguém deixa de ser amado por Deus porque já se converteu! Esta pessoa ainda precisa de nosso cuidado e, em nossas escala de prioridades, deverá estar à frente daquela que ainda não se converteu. Nossa desatenção e desamor aos novos-convertidos podem pôr todo trabalho anterior a perder; é por isso que Paulo escreveu:

“Não faças perecer… aquele por quem Cristo morreu” (Rm 14.15).

Uma igreja que não se ama a ponto de ministrar aos seus, não expressará amor genuíno aos de fora! Pode até mostrar produtividade e capacidade de alcançar metas, mas da mesma forma que com o amor ao próximo, o ministério também começa pelo lado de dentro.

Esta é uma ordem que Deus mesmo estabeleceu. Ele em primeiro lugar, e os santos em segundo. O ministério aos perdidos não é, necessariamente, o último, e sim a consequência dos dois primeiros ministérios sendo bem exercidos.
Tenho observado que toda igreja que tem os dois primeiros ministérios como ênfase, não terá dificuldade para ter resultados no exercício do ministério aos perdidos. Porém, muitos que tentam começar (ou mesmo se limitar) no ministério aos perdidos acabam não sendo tão bem-sucedidos quanto aqueles que agem de modo correto.

Este é um princípio bíblico, de modo que esta figura pode ser encontrada até mesmo nos textos do Velho Testamento:

“No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. As bases do limiar se moveram à voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos! Então, um dos serafins voou para mim, trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; com a brasa tocou a minha boca e disse: Eis que ela tocou os teus lábios; a tua iniquidade foi tirada, e perdoado, o teu pecado. Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim” (Is 6.1-8)

Nesta visão de Isaías encontramos em ordem progressiva os três ministérios :
1) Ministério ao Senhor (visto na adoração dos serafins);
2) Ministério aos santos (visto na edificação pessoal de Isaías – o toque da brasa);
3) Ministério ao mundo (visto no apelo que Deus faz e ao qual o profeta responde).

Deus, em sua soberania, deixou ilustrações destas três expressões de ministérios em toda a Escritura. Veja, por exemplo, o que aconteceu no dia de Pentecostes:

1) Os discípulos estavam no Cenáculo orando (At 1.14) – o que é uma expressão de ministério ao Senhor;
2) Então Deus corresponde e ministra aos santos o enchimento do Espírito Santo (At 2.1-4);
3) E a consequência final é que milhares foram salvos – o exercício do ministério ao mundo (At 2.37-41).

No ministério ao Senhor, a oração, juntamente com a adoração, vem sempre em primeiro lugar. No entanto, quantas ouvi dizer que o período de louvor era meramente a “preparação para a palavra”! Sou um pregador da Palavra de Deus, mas reconheço que isto está classificado na segunda expressão de ministério (aos santos – quando os ensinamos) ou mesma na terceira (aos incrédulos – quando os evangelizamos). Porém a adoração vem em primeiro lugar. E não visa preparar o coração de ninguém, e sim ministrar ao coração de Deus. Igrejas adoradoras provarão mais do poder de Deus do que qualquer outra, pois quando nos achegamos a Deus, Ele também se achega a nós (Tg 4.8).
E a oração também deve ser assim destacada:

“Exorto, pois, antes de tudo que se façam súplicas, orações, intercessões, e ações de graça por todos os homens, pelos reis, e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e sossegada, em toda piedade e honestidade. Pois isto é bom e agradável diante de Deus nosso salvador, o qual deseja que todos se salvem e cheguem ao pleno conhecimento da verdade”. (1Tm 2.1-4)

Quando Paulo escreve a Timóteo, manda que antes de tudo (clara indicação de prioridade) se faça a prática de orações; isto fala de ministério ao Senhor. O resultado disto fará com os santos sejam ministrados por Deus com uma vida mansa e tranquila, e os ajudará a cumprir sua grande comissão:

“…o qual deseja que todos se salvem”.

Muitas vezes programamos todo o culto com a preocupação de atingir o não-crente, e acredito que devemos pensar neles e que certas práticas nossas que fazem sentido quando estamos só entre cristãos não devam ser usadas quando temos não-crentes nos visitando, como o falar em línguas, por exemplo (1 Co 14.23-25). Contudo, nossa ênfase da reunião semanal precisa ser voltada para o ministério ao Senhor e não somente para os perdidos.

Deus está chamando seu povo a uma clara consciência destes três níveis de ministério. Portanto, devemos reorganizar nossas práticas e valores, ajustando-nos ao modelo bíblico.

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