Cristãos são atacados após acusação de abater uma ‘vaca sagrada’ na Índia

A polícia prendeu quatro pessoas e outras 10 são procuradas pelo ataque aos cristãos que sofreram espancamentos e foram tosquiados.

Fonte: Guiame, com informações do Asia NewsAtualizado: segunda-feira, 28 de setembro de 2020 às 12:53
Cristão arrastado por ruas de Jharkhand por radicais hindus. (Foto: Reprodução / Asia News)
Cristão arrastado por ruas de Jharkhand por radicais hindus. (Foto: Reprodução / Asia News)

Acusados de abater uma vaca, considerada animal sagrado na Índia, alguns cristãos tribais Dalit de uma aldeia no estado de Jharkhand, foram espancando, tosquiados e forçados a cantar “Jai Shri Ram” (Vitória para deus Ram).

O ataque foi feito por um grupo de "protetores da vaca sagrada", segundo informa Sajan K George, presidente do Conselho Global dos Cristãos Indianos (Gcic) ao AsiaNews.

Ele explica que o ataque aconteceu no dia 16 de setembro do ano passado, mas a notícia só surgiu no dia 25 após a denúncia do ex-ativista membro do conselho distrital Neel Justin Beck.

Na Índia, a vaca é considerada sagrada e é um assunto delicado para a maioria hindu. São frequentes os episódios de violência contra as minorias que abatem a sua carne; normalmente, as principais vítimas são muçulmanos, mas não faltam episódios envolvendo cristãos.

Desta vez, o ataque foi feito por sete cristãos de uma área tribal em Jharkhand, com a acusação - feita sem nenhuma evidência a esse respeito - de abate de um animal.

Deepak Kullu, um cristão tribal de 26 anos de Bherikudar, distrito de Simdega, cerca de 145 km a sudoeste de Ranchi, relata que um grupo de mais de 25 pessoas armadas com paus e porretes entraram na aldeia nas primeiras horas da manhã.

A partir das informações iniciais, o grupo era formado por pessoas que moravam nas aldeias da região. No início, eles atacaram Raj Singh Kullu e lançaram palavras ofensivas sobre a casta de sua esposa Jacqueline Kullu. Solicitados por explicações, eles "começaram a gritar e a nos acusar de matar uma vaca".

Provas consideradas falsas

O grupo continuou a atacar, até mesmo exibindo um vídeo (provavelmente um falso ou preparado com arte) no qual um velho de uma vila próxima afirma ter testemunhado a matança de animais. Arrastados à força para a aldeia de Mahato Tola, a meio quilômetro de distância, foram espancados e forçados a entoar "Jai Shri Ram".

A polícia, chamada pelos agressores que sofreram ferimentos leves e não precisaram de cuidados médicos, vasculhou as casas dos cristãos, mas não encontrou evidências do crime. No dia seguinte foi a cristã Jacqueline Kullu quem apresentou queixa sobre o atentado, conforme confirma o superintendente de polícia do distrito de Simdega, Shams Tabrez. Os agentes prenderam quatro pessoas e outras 10 estão sendo procuradas.

“Os cristãos tribais são ocasionalmente atacados por grupos de ‘protetores de vacas’ afiliados à extrema direita, com falsas acusações e evidências especiosas de abate de animais”, diz Sajan K George ao AsiaNews.

Sajan disse ainda que “a questão da proteção das vacas é um pretexto em suas mãos, assim como nas administrações locais” que apoiam, tácita ou abertamente, os abusos. Eventos similares já aconteceram em Jharkhand, onde "cristãos tribais foram mortos por esses grupos de vigilantes".

O fenômeno da "hinduização" das tribos, continua o ativista cristão, começou "décadas atrás com o avanço dos líderes políticos de direita" e foi fortalecido com agressões, violência, ataques direcionados e "a negação dos direitos inerentes à cultura da população tribal ".

Em alguns estados não existem leis específicas que punam a morte de gado, porém com a ascensão do BJP houve uma reintrodução gradual das normas punitivas e "o próprio Jharkhand testemunhou vários episódios de linchamento de populações tribais e muçulmanos” desencadeada por razões especiosas.

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